sábado, 29 de dezembro de 2007

Ao acusado, a defesa

Ultimamente fui tocado fortemente por uma “acusação” (impessoal, mas uma acusação ainda). Mencionei algumas frases que me tornavam comum e fariam com que perdesse meus “atrativos”. Isso parece incomodar. Incomodar-ME. Pensando com tranqüilidade (agora, após um leve gotejar das nuvens), me transporto para as colocações que fiz defendendo o uso de frases-comuns. Os argumentos eram bons (acredito) e realmente são o que penso.

Um sofrimento meu, particular, é a falta de criatividade que me acompanha. Meu forte é trabalhar idéias que já existam. Isso sim me é de grande alegria. Mas não sou criativo.

No cadinho dos pensamentos há palavras e palavras, frases e frases, textos e textos e tudo isso são idéias enoveladas/enovelando-se. Comigo é assim, bem como com todos.

Não sei quem é o autor dessa frase, mas Dona Mãe sempre a repetia: “Cada um fala do que está cheio o coração”.

Pois eu falo do que está cheio meu coração. Sinto o que penso (não sou emotivo, apenas acredito em certezas). Só posso falar com o que tenho em mim. Depois de pensar muito, falo.

Alguém que me conhece vai dizer: “controvérsia aqui!”. É verdade, no meu viver não pareço pensar muito. Quem olha não vê que tudo o que faço teve um raciocínio prévio. Falo tão facilmente (é o que dizem e é o que penso) que pareço não pensar muito e apenas falo. Não sou um grande-ser-da-cultura (infelizmente), mas não sou destituído de sentido no que digo: o que falo sempre tem fundamento, e chão só existe quando se tem pés sobre ele. Sonho, mas quero atingir esses sonhos.

[Só um momento: ficou parecendo, no parágrafo anterior, que sou frio e calculista. Não é isso, não. Não metodizo todos os passos do que irá acontecer e nem manipulo cada detalhe para que saia exatamente da maneira como foi pensado. Não, não. Não é isso. Com a inteligência que tenho, não consigo fazer tudo isso. Somente o fundamento, a parte principal já foi pensada (afinal, é isso o que importa e sobre algo hão de ser tomadas as decisões, não?).]

...

Os Livros na estante já não tem mais tanta importância
Do muito que li, do pouco que eu sei, nada me resta
A não ser, a vontade de te encontrar
O motivo eu já nem sei, nem que seja só para estar, ao seu lado,
Só pra ler, no seu rosto
Uma mensagem de Amor
Uma mensagem de Amor

A noite eu me deito, então escuto a mensagem no ar
Vagando entre os astros, nada me move nem me faz parar
A não ser, a vontade de te encontrar
O motivo eu já nem sei, nem que seja só para estar ao seu lado,
Só pra ler no seu rosto
Uma mensagem de Amor

Os Livros na estante já não tem mais tanta importância
Do muito que li, do pouco que eu sei, nada me resta
A não ser, a vontade de te encontrar
O motivo eu já nem sei, nem que seja só para estar, ao seu lado,
Só pra ler, no seu rosto
Uma mensagem de Amor
Uma mensagem de Amor

A noite eu me deito, então escuto a mensagem do ar
Vagando entre os astros, nada me move nem me faz parar
A não ser, a vontade de te encontrar
O motivo eu já nem sei, nem que seja só para estar ao seu lado,
Só pra ler no seu rosto
Uma mensagem de Amor
Uma mensagem de Amor
Uma mensagem de Amor
Uma mensagem de Amor
Uma mensagem de Amor

[Lucas Santana – Mensagem de amor]

Observe que coloquei “Lucas Santana”, mas essa música é de Herbert Vianna. É que gosto da interpretação do Lucas Santana.

Eu trabalhava em uma loja de música e acabei escutando essa música sem querer. Um de meus colegas estava rodando-a. Aproximei-me e perguntei que música era e tal. Ele me explicou, conversou comigo um pouco e, quando viu que gostei da música, disse que era muito ruim. Perguntei em que CD estava e ele me mostrou o CD da novela Laços de Família. Droga! Um CD de novela?!?! Senti-me um ser massificado naquela hora... Resisti o máximo que pude, mas havia gostado muito dessa música, tanto que comprei o CD.

Nessa semana estava em um mini-mercado aqui de perto e a televisão estava ligada. Passava uma das novelas de uma emissora não-Global e, na trilha sonora, estava uma versão dessa música cantada por uma mulher. Senti uma como revolta por aquilo estar acontecendo. Em verdade, houvera me esquecido de que a tinha conhecido também em uma novela.

Isso me levou a pensar que muitas vezes discordamos de algo simplesmente por que já foi “massificado” e deixou de ser algo “original”. Acabamos imprimindo a nossa originalidade em algo que não é nosso. Isso é um tanto quanto absurdo, não?

Ao menos está explicada a razão de ter mantido Lucas Santana: esse aí é o “meu” original da canção, o “meu”.

...

Dei-me conta de que a maioria das músicas que escuto (as que gosto de todo o eu) são verdadeiros lugares-comuns. Veja a letra acima. Gosto mesmo dessa música, pombas! Mas é lugar-comum.

Há tempos atrás, quando estava tentando aprender a tocar violão, comecei a ler as letras das músicas do Pato Fú e percebi que, de uma linha para a outra, não havia nenhum sentido! Como era possível aquilo retratar as minhas realidades?! Ou como é que aquilo poderia retratar a realidade de qualquer um que fosse?!?!?! Lendo e relendo entendi que Pato Fú é tão “fú” porque nos deixa participar da composição de suas músicas, deixando o espaço entre uma linha e outra por nossa conta.

A verdade é que a gente realmente imprime os reflexos da nossa existência nas letras das músicas e no movimento de melodia das músicas.

[Começou a tocar Lost in your eyes com Debby Gibbson agora aqui… outro lugar-comum que eu adoro...]

A minha vida é cantada por paisagens que já foram fotografadas em outros cantores, mas as memórias do que se foi são apenas minhas. Esse “book” só eu vejo, só eu sinto. Pobre linguagem essa dos homens que não tem palavras suficientes para gerar a paciência...

Sinta minhas frases-comuns, mas SINTA com tudo o que posso te mostrar. Escute a minha melodia, dance com meus olhos quando eles te olham, escute a minha voz e pense nela como algo incompleto sem as minhas mãos. Não leia meu texto. Esqueça-o. Leia-me. Eu não sou o que os outros escreveram/disseram.

...

Somos todos partidaristas e vamos sempre defender os nossos partidos???

Um comentário:

Anônimo disse...

Sr. Acusado;
Também tenho o direito da tréplica. E por este mesmo motivo é que venho solicitar-lhe que leia meu post mais recente. É todinho dedicado a ti.
Gracias.


;***