Ainda não tenho certeza disso que estou escrevendo, mas quero pensar enquanto escrevo.
Todas as pessoas (e aqui eu digo todas) sempre constroem seus conceitos sobre o trato maniqueísta.
[Vou fazer uma observação: o conceito que fazemos das coisas todas nos faz agir (ou pensar) de determinado modo diante das circunstâncias diversas. Se, por exemplo, conhecemos uma pessoa e esta desperta nosso interesse, determinamos que gostamos desse alguém; se esse alguém nos dá sinais quaisquer que gosta de nós, passamos a crer em um relacionamento provável; assim, com o conceito de que amamos e com o conceito de que somos amados agimos e criamos esse relacionamento sobre conceitos de respeito, afabilidade e etc. Nossa felicidade é mais firme conforme são mais nítidos os nossos conceitos. Por isso o conceito que fazemos das coisas é tão importante. Voltemos ao texto então.]
Sim, o conceito maniqueísta envolve um bem e um mal. Bem e mal são conceituados por certo e errado. Não podemos formular (ou não conseguimos, ainda não sei) nenhuma idéia sem essas premissas. Pela observação, isso parece mesmo um fato verdadeiro.
Tomamos contato com os conceitos de outra pessoa de duas maneiras: uma é quando ela o explica, o conta (falando ou escrevendo) e podemos meditar sobre o próprio conceito e realmente o entender; a outra maneira é quando os conceitos dessa pessoa entram em atrito com os nossos (mesmo sendo os mesmos conceitos!).
A extrema maioria dos conceitos são descobertos pelo processo de “atrito”, como é fácil de se ver. Isso se deve ao fato da não-nitidez que os conceitos de uma pessoa apresentam a ela mesma.
Do que quero mesmo falar são dos conceitos nítidos das pessoas e como elas não seguem por esses. Um exemplo simples é o daquele que prega a vida após a morte do corpo físico, mas vive como se isso não fosse real. É um conceito, mas essa pessoa não vive por ele.
Existem homens com uma capacidade de convencer tão impressionante que conseguem fazer outros crerem em um conceito que eles mesmos não seguem. Mas isso não é facilmente visível.
Da observação (e de vários questionamentos diretos a esses homens) se deduz que eles não têm nitidez no conceito que professam. Ou o herdaram de alguém (e quem sabe não o tenham analisado) ou não o desenvolveram completamente.
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Quando temos um conceito nítido e agimos de forma contrária a ele, nos sentimos culpados por uma espécie de auto-violação ou auto-sabotagem. Isso trás infelicidade.
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As pessoas me perguntam por que é que não faço tal e tal coisa e eu até gostaria de responder, mas elas não estão interessadas
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Por algumas experiências que podemos chamar de “menos felizes”, vivo com o receio de ser como os homens que citei há pouco. Não quero conduzir ninguém para idéias que não tenho claras; nem quero parecer ter certeza em conceitos que não tenho firmes. Não quero ser um cego a cegar outras pessoas para as conduzir.
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Posso ter um conceito-nítido errado, equivocado; mas não posso ter “meia-certeza” nele. Posso mudar esse conceito, mas não vou viver e agir sem entende-lo e vive-lo realmente.
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Para viver em paz, o homem precisa de respostas.
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Tu tens algumas respostas; tens, portanto, conceitos-nítidos; começaste a vier por eles.
Vais agir como se eles nunca tivessem existido?