sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Originado da simplicidade

“... just a mirror for the sun...”

[Red Hot Chili Peppers – Road Tripping]

O Sol exerce muita ação sobre nós. Em certo nível, ele define nossos ciclos.

Basicamente, no sol, há um único elemento e uma única ação: hidrogênio em combustão. Todo o resto advém dessa simplicidade.

Há ainda satélites, como a Lua. Não fazem nada por si, senão “repetir” o que o Sol “fala”.

Esses “espelhos” são muito importantes. Há sempre o dia em que conheceremos a realidade deles: sempre foram vazios. Virá o desânimo? A decepção? Não. Não, não. Virá a alegria de saber que eles conduziram a “luz solar” para “encher” outros “potes”...

Peter Pan e a Catapulta

Observe: todos os momentos importantes de nossa vida são registrados junto a outras pessoas. São os auxiliares do nosso progresso.

Aqui encontramos duas categorias de pessoas.

Uma delas é o nosso companheiro “catapulta”. Com ele nos armamos lentamente, ajustamos cada engrenagem com delicado cuidado, preparamos a propulsão e... ZAPT, saltamos muito longe, tão distante do ponto de origem, mas... a “catapulta” ficou pra trás... muito atrás...

E há aquele que, tendo a certeza de que quer estar conosco, nos leva magicamente pela mão, quase sem nos tocar. É o amigo Peter Pan, que nos faz voar... e sempre ao nosso lado...

Un viejo blues...

“No se porqué
Imaginé
Que estávamos unidos
Y me senti mejor
...
Un viejo blues
Me hizo recordar
Momentos de mi vida
Mi primer amor”

[Pappo & Blues – Un viejo blues me hizo recordar]

“O trabalho mantém a cabeça no lugar” – é o que se fala. Compreende-se mesmo como verdade, já que toda a ocupação útil consome nossa atenção e nos "livra" de outros pensamentos.

Digo isso porque vivemos o “não sei por que imaginei” e acabamos por lembrar de um alguém. Pergunta: nessas vezes tu não tens a sensação de que há mais alguém envolvido nesse pensamento “espontâneo”, “súbito”? Quase alguém a nos lembrar de quem nos faz sentir melhor?

...

É... o azul escorre pelo rosto e amacia as histórias que se foram...

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Boi verde vestido de Papai Noel

Há amigo que deseja estar junto da gente indiferentemente aos acontecimentos.

Há “amigo” que está com a gente como uma espécie de “boi verde vestido de Papai Noel”: SEMPRE está conosco, SEMPRE está envolvido no problema, mas quando a ‘coisa aperta’ ele escapa. Quando o reencontramos (depois de nos preocuparmos com ele), está sentadito na janela do trem, como se nada houvesse acontecido.

Some na hora do presente. Reaparece NO presente.

Paixão e situação

Ontem, conversando com um amigo, assuntávamos sobre paixões. Mais tarde, em casa, me pus a pensar (novamente) sobre elas. (Novamente) Cheguei à conclusão de que – em romance – existem dois tipos de paixões:

- Paixão por uma pessoa e;

- Paixão pela situação.

A principal diferença entre as duas é que na paixão por uma pessoa nos decidimos a mudar as nossas características e nos inserimos na realidade dessa pessoa como participante, enquanto na paixão pela situação buscamos convergir o maior número de variáveis a um único ponto de relacionamento, sendo a maioria das vezes a pessoa “amada” esse foco.

Nas mais das vezes, a paixão é algo que passa. Se for paixão por uma pessoa, o desenlace é fácil e relativamente rápido. Se for paixão pela situação, o mesmo desenlace se torna penoso e crítico, já que o número de variáveis envolvidas é muito grande. Todo um maciço de amigos que foram projetados para dentro dessa situação terão obrigatoriamente de se posicionar em favor de uma das partes e contra a outra. Essa separação não é única e exclusivamente do ex-conjuge, mas sim de TODOS os que foram inseridos no corpo da relação. Não há saída ilesa desse trâmite.

Para aqueles que construíram essa "galé", um aviso: todos os “remadores” que foram “contratados” atiraram-se no mar, te abandonando. Levaram ainda todos os sinalizadores e NÃO IRÃO buscar socorro para quem estava aproveitando a brisa da situação e agora está remando sozinho no convés...

Let's live today

Brick this window

Put your heart away

Life is beautiful as you are today

If you have one life to live

Let’s live today

[Flarrow: Give me tonight]


O blogueiro nos convida a participar de seu universo. Nos convida a vivermos junto com ele as caricaturas que são seus textos.

Em algums textos encontrados em alguns blogs, observo que o estilo de quem escreve diz mais do que a própria idéia que está expressa no texto. É necessário muitas vezes ler os posts mais antigos pra saber o que se está querendo dizer naquele pequeno trecho desse espaço-web.

Mas há alguns blogueiros que não escrevem por eles mesmos e nos confundem. Quem sabe se pudesse classificá-los como “blogueiros de terceira pessoa” ou – melhoramente - de “roleplay bloggers”. Escrevem como se fossem outra pessoa, exteriorizando um pensamento que não conseguimos definir como sendo deles, d’outrem ou de uma personagem.

O motivo pelo qual fazem isso? Não sei. Só sei que é muito divertido descobrir as pessoas/situações, encontra-las e tentar compreende-las. Fuçar blogs é muito divertido. É como ter autorização para vasculhar uma gaveta cheia de diários. Não esqueça: o estilo de quem escreve completa o significada do texto (que é sua obra). Portanto, não esqueça de procurar a “gaveta” com as “fotos” e a “gaveta” com os “comprovantes de pagamento de tudo o que ele comprou”. Não leia somente as linhas, as letras.

Leia o blogueiro.

Viva uma vida rápida com ele.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Dragões e palavras-cruzadas

Outro dia estava lendo um conto de Caio Fernando Abreu: Os dragões não conhecem o paraíso. Realmente não me identifiquei. Não conheço (ainda) Caio F. e muito provável seja por isso que não haja me identificado com o texto que li.

Em particular, não consigo ter com quem não conheço. Relativamente, isso me “protege” de paixões. Mas houve uma vez...

Há coisas das quais gostamos; há coisas das quais não gostamos. Some aos dois tipos os traços que não vemos.

O que nos faz gostar é muito mais o que não vemos do que o que se consegue ver.

...

De letras, não muito conheço. O melhor jogo de palavras, a melhor ordenação vocabular que já cheguei a admirar foram as palavras-cruzadas. Os melhores poemas, os que me ajudaram a me compreender no mundo foram as tirinhas de Hagar, O Terrível.

...

Entre os dragões e as palavras-cruzadas fico com as entrelinhas, que é justo a parte que não vejo; que é justo o que não sei...

Extremamente abstratas

Já escutaste as músicas do Pato Fu? Já percebeste como são as letras das músicas deles? Entre uma linha e outra temos de reconstruir o pensamento do autor. São extremamente abstratas. É por isso que adoro Pato Fu: Não me diz o que pensar e não me dá um universo pronto.

"Nunca pensei um dia chegar
E te ouvir dizer:
Não é por mal
Mas vou te fazer chorar
Hoje vou te fazer chorar

Não tenho muito tempo
Tenho medo de ser um só
Tenho medo de ser só um
Alguém pra se lembrar
Alguém pra se lembrar
Alguém pra se lembrar

Faz um tempo eu quis
Fazer uma canção
Pra você viver mais
Faz um tempo que eu quis
Fazer uma canção
Pra você viver mais

Deixei que tudo desaparecesse
E perto do fim
Não pude mais encontrar
O amor ainda estava lá
O amor ainda estava lá

Faz um tempo eu quis
Fazer uma canção
Pra você viver mais"

[Pato Fu: Canção Pra Você Viver Mais]


Não me obriga a nada, mas diz que me quer lá.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Verde assonoro...

Ganhei uma mudinha de parreira no sábado. Não a replantei. Ela morreu. Morreu na segunda de manhã.

Fico pensando em algumas pessoas que conseguem ser extremamente dedicadas para as plantas e não dão quase a mínima atenção para pessoas. São extremamente cautelosas com a vida simples de uma muda assonora do verde e se põem indiferentes aos berros dos que sabem falar e se expressar a seu lado; os seus iguais.

Em outro lado, fico pensando (controversamente) nos que, monstros insensíveis, conseguem se dedicar aos insólitos agentes do mal: os homens. Seres significantes que não conservam nada e a tudo usurpam sem dó e sem compreensão.

Dois lados, mesma moeda... (estou querendo um motivo para não me recriminar por ter deixado a mudinha de parreira morrer...)

...deixa-me ser então...

"Escuta: eu te deixo ser, deixa-me ser então."

[Clarisse Lispector]

Frase triste, não?

Não leio Clarisse. Vi essa frase citada por uma amiga. Estávamos comemorando a melíflua influência que ela estava causando em mim. Eu estava radiando um sol que meus poros já mo mostravam ardendo. Faceiro.

Não durou muito. Euforia não pode durar. Graças a minha amiga, não durou. Tudo bem, agora começo a escrever outro post mesmo...

Motivo suficiente para o simples

“Tudo é tão vago que até parece nada.”

[Caio Fernando Abreu]

Isso é motivo suficiente para crer que a verdade das coisas é incrivelmente simples...

Unhas grandes.

Mulher tem que ter unhas grandes. É assim que deve ser.

Mesmo não sendo aquela gatinha elas acabam sempre tendo atitudes felinas.

Nós estamos parados, acostumados com o soprar lento do vento (pensamento masculino) e acabamos sendo arrebatados por uma mulher que chega mesmo sem avisar. Ou ainda: chega devagar e se mostra rapidamente em uma atitude felina. Sei disso porque vivi a situação bem assim.

Eu era pequenino e sonhava com aquela mulher que viria e seria tudo de especial que existisse: inteligente, atenciosa, bonita, inteligente, cativante, experta, inteligente, culta, brincalhona, observadora, inteligente, gostasse de pensar...

Mas o tempo vai passando e passando as coisas com ele vão. Claro, sonho é sempre sonho e a gente nunca abandona. Mas chega um momento em que a gente não pensa mais em realizá-lo: é quando ele se transforma em um “sonho-distante”. Sonhos-distantes são aqueles sonhos que não tencionamos mais realizar, que não mais nos fazem ter ‘aquela’ esperança, que só há no fundinho da gente, uma como que luzinha esperando pra brilhar. Quando as coisas ficam difíceis, são esses sonhos que nos mantém pisando no chão.

E, um belo dia, a gente abre a “janela” e lá está aquela pessoa que a gente viu e... viu. E, segundos depois, a gente não consegue mais parar de pensar nela e em tudo o que ela tenha dito. Os pensamentos que advém do pensamento (principal) que é pensar nela são todos feitos de uma ondulação longa e lisa, como aquelas que os navios que naufragaram encontraram no início da tempestade. Eles vêm varrendo tudo, não interessa o quão grandioso é ou deixa de ser, e a tudo engole para eternizar na memória de quem esse tudo viveu. Não interessa muito o que “esteve”, mas sim o que “estará”. Em verdade, nem o que estará. A imensidão deixa de existir. As fraquezas são insignificantes. As fortalezas são conquistadas. O mundo passa a girar na velocidade certa. Nós ganhamos a lucidez da paixão (sim, porque a paixão é lúcida quando é pela vida, quando é pelas coisas de valor e o que a “mulher dos sonhos” trouxe foi justo isso pois não seria “dos sonhos” se assim não o fizesse). Ela nos faz melhor.

Bem, ela não faz um “nós” melhores. Ela faz um “eu” melhor. Foi o que ela fez. E ela faz.

Talvez ela não queira casar comigo ou, se o fizer, não permaneça para todo o bem-dito sempre junto a mim. Muito provável seja que ela se vá. Se vá e não me leve com ela. Mas ela terá então edificado a maior das construções: eu.

Sinceramente? Ela não vai construir nada. Eu já existo. Ela irá assinar ou rubricar a escultura. Eu era quase um bloco monolítico, agora lapidável. Ela não imprimirá um estilo artístico em mim. Ela me transformará em um estilo.

Observe: ela, ela, ela, ela, ela, ela, ela, ela, ela, ela, ela, ela, ela e ela. Ela; ela; ela.

Podes pensar agora. Parece que ela monopolizou o meu pensar, não é mesmo? Sim, mas foi quase. Ela me deixa na administração de mim mesmo, mas foi aclamada como Inspetora Motivacional de mim. Por aclamação, diga-se, já que está efetuando um ótimo trabalho.

Agora, ao fim do texto, diga realmente se o mesmo faz sentido. Seja sincero. Palavras repetidas? Frases com sentido separado? Não faz sentido, não é? Pois é... isso também é obra dela.

Sabes qual é o milagre dela? É ela ter unhas grandes. Ela as corta “vezenquando”. Isso é portabilidade... portabilidade...