domingo, 23 de março de 2008

Umbigocentrismo

O neutrônio é um elemento atômico diferente. A diferença é que ele tem apenas nêutrons em seu núcleo. É conhecido como “elemento zero” e é tão pesado que só pode existir no núcleo de estrelas de nêutrons.

...

Há ocasiões em que não estamos preocupados com o longe e muito menos com o perto. Observe que há pessoas (quem sab'eu seja uma delas, não?) que não estão preocupadas com o próximo. Há inclusive uma declaração oficial e “comprovada” de que estão preocupadas com o próximo. Exemplo (veja que, em minha vida, há isso também): “Sou trabalhador voluntário. Preocupo-me com o próximo”. Que tal uma análise aqui? Vamos lá, então:
  1. Sou trabalhador voluntário e me preocupo com o próximo. Ótimo. Pena que essa preocupação é apenas uma vez por periódo...

  2. E onde está o próximo de longo prazo? Digo, essa mesma pessoa atingida por nossa preocupação com o próximo, mas que está no futuro? A quem eu realmente quero ajudar? Como ela estará?

  3. E como estão os próximos dentro de meu cesto?

O que estou dizendo (que não é nenhum mistério) pode ser divido em: pessoas do meu circulo direto (filhos, irmãos, pais, amigos...); pessoas do circulo atingido por meu trabalho voluntário no momento de meu trabalho voluntário; pessoas do circulo atingido por meu trabalho voluntário fora do momento de meu trabalho voluntário.

Com as primeiras, não estou preocupado. Façam o que façam, que se danem. Danem-se os detalhes. Sou um trator.

Com as segundas, sou amável (é mais fácil amar o próximo que está próximo apenas umas vez por periódo).

Com as terceiras (ou seja, as segundas, mas em outro tempo), sou outro trator. Danem-se com o que quer que estejam fazendo. Danem-se nos outros 98,81% de seu tempo no qual não estou com eles. Não quero saber dos resultados de meu trabalho.

...

“Neutrônios”. Tanta força gravitacional dentro de suas próprias mentes que tudo de bom que podem realmente dar é atraído para o vazio que é a órbita de seus eus.

Sabe o que é bom disso? É o salto epstemológico (Salto Epstemológico® by Paulo Freire). Dentr'um tempo, serão o bem maior onde estiverem.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Vítimas da paixão condicional

Apenas como exemplo, o Homem Aranha é uma paixão incondicional pra muita gente. Incondicional porque o seu senso de dever é algo que, apesar de fictício, é extremamente palpável. Por mais que ele tenha errado ou erre ainda, nenhum dos fãs dele deixará de amá-lo. Há motivos pra esse incondicional.

Procurando na internet e no contato direto com outras pessoas, encontrei muitas paixões incondicionais. Não conheci ninguém que não tivesse uma dessas paixões, mesmo que a pessoa não a declare diretamente.

Paixão incondicional... que mistério esse...

...

Nós temos sempre posturas diante dos acontecimentos. Sempre variáveis, mas sempre centradas em uma maneira comum para cada ser. Assim é que uns são tidos como pessoas de personalidade forte e outras não.

No entanto, um comportamento parece se repetir. Quando o objeto dessa paixão, desse amor é uma outra pessoa que se torna nosso cônjuge, o comportamento sempre é condicionador.

Com o super-herói d’uma história em quadrinhos, com o escritor de belos poemas, com grandes artistas musicais, com grandes literatos, enfim, com todas as paixões incondicionais dessa ordem o modus vivendi dessa paixão, desse amor parece se basear em uma característica simples: a impossibilidade que o objeto dessa paixão tem de nos ferir. Não, melhor: a impossibilidade da intenção malévola de nos ferir. Afinal, se um trecho de um poema ou conto nos diz que somos algo menor do que realmente somos, fica patente a não-intenção de nos atingir, já que nem somos conhecidos do autor.

Pobres são as vítimas do amor condicional. Essas pobres pessoas não podem ter ninguém pelo simples motivo de não serem tidos. E não são tidos por alguém pelo estúpido motivo do medo, da não entrega, do condicionamento. “Não me dou todo porque tenho medo dos espinhos que talvez hajam em ti...”. Argumento estranho, não?

...

Amar o Homem Aranha, amar Machado de Assis, amar Herbert Vianna... tu entendes, não é? Em um livro, em uma música ou em qualquer contato indireto não há como ter alguém. Não há como se iludir. Ter alguém sem ser tido é utopia. Ninguém nos tem se não temos esse outrem; não temos ninguém se esse outrem não nos tiver.

Viva como quiser, com o que quiser, é claro; mas não tente se esconder atrás da paixão incondicional mais condicional de todas. “-Ei! Meu ídolo! Eu estou apaixonado incondicionalmente por ti! A única condição é a distância, que tu não te tornes real pra mim... não quero te perder... deixe que eu siga imaginando que nos temos... é tão bom quando não arrisco...”

...

Veja aqui o que é o incondicional e tente, junto comigo, aprender a viver uma paixão, um amor em verdade: http://www.youtube.com/watch?v=QyOh5uVcNww

...

Todo mundo busca alguém pra se entregar completamente, pra que conheça tudo o que há em nós, pra que possamos “morrer nos braços”. Quando estamos em vias de ter esse alguém, nos negamos a entrega. Temos absoluta certeza de que essa é a pessoa certa, mas... hum... bem... ainda não sei... não tenho certeza... vou esperar mais 4 ou 5 anos ou... ou mais 10 anos pra ter certeza absoluta de que perdi tanto tempo...

Seja covarde, se esconda atrás da desilusão, crie uma dessas paixões incondicionais totalmente condicionais e esqueça de viver a única coisa que é totalmente incondicional: a vida. Sim, por que a vida não tem condições...

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Objetividade

Sempre gostei de estudar. Infelizmente sofro de falta aguda de disciplina. Não sei estudar sozinho. Talvez tenha sido a estranha confiança que a Dona Mãe e o pai nos entregavam (a mim, meu irmão e minhas duas irmãs). Heheheh.... era muito bom ver que nós não éramos “vigiados” como as outras crianças, éramos como que responsáveis por nós mesmos em tempo escolar integral. Em casa não haviam revisões de cadernos ou outros tipos de “fiscalizações”. Isso era realmente ótimo e nos fazia como que pactuados a não sermos maus alunos. Éramos boas crianças, os professores gostavam de nós e nos tinham por bons alunos. Gostávamos de estudar e realmente aprendíamos. Fruto negativo desses anos assim foi a falta de estudos complementares em casa e principalmente da disciplina de estudar sozinho. Hoje sinto essa falta...

Com 16 anos percebi essa minha insuficiência. Começavam as épocas de vestibulares e concursos e necessitava estudar sozinho. Extremamente difícil e cheguei a centros de completa inabilidade. Mesmo assim, não desistia.

O que gostava mesmo de tentar estudar era redação. Como lera muito pouco até a época, o texto era um mistério pra mim. Não um mistério total, mas um mistério por como se mostrava. Nesses esforços, busquei ler quem escrevia bem. Redação pra concurso é um saco, convenhamos. Limite de linhas máximas e mínimas é quase uma castração da liberdade. Numa publicação (que já não lembro de que revista era), havia uma coleção complementar para concursos e vestibulares. No encarte sobre redação aparecia a de um vestibulando da USP (eu acho) que ganhou nota 10. Lendo percebi que não existem limites exteriores: o limite é todo de quem está do lado de dentro do texto. Em tudo o que já escrevi até hoje eu buscava vencer os limites exteriores, mas não vencia as barreiras interiores, não me vencia no texto. Idéias por signos, registro por símbolos era tudo o que eu dispunha a quem lia.

...

Sempre me surpreende o mundo direto. Não sei o que é. Agrada muito mais a meu gosto esse mundo objetivo, mas não consigo viver assim... ou sou dúbio ou não sou.... não sou ninguém.... Acho que me escondo atrás de um nada que eu mesmo crio; quem consegue vencer o nada sem se assustar encontra até um porto seguro... Figura de linguagem, claro. O nada não existe e, em não sendo coisa alguma, não pode nada impedir e nem fazer. A verdade é que crio uma cara-feia ou uma cara-estranha... Por quê? Não o sei... Talvez eu não saiba quem e como sou e tenha medo que outrem me descubra primeiro...

...

Durante esses últimos dois meses estou começando a realmente tentar me vencer no texto. Uma moça me mostrou como é que se faz: primeiro e me venço em mim e depois eu posso ser o que quiser.

...

Lisiane, tens mais coragem que eu e um sentido do todo que me escapa e me perde. Esse nada que eu criei, esse nada que está a minha frente... tu vens e o destrói... fazes com que eu mesmo me debata à exaustão contra essa insânia estúpida que me rege e me acovarda sem que eu queira saber. Banhos de verdades extremamente dúbias me entram em colapsos, e me mostram que não tenho do que ter medo e não há a que reagir.

Lisiane, meus erros me doíam, mas não tanto quanto agora... eu buscava sentir essa dor e não sabia... ma deste...

Eu sou entregue a mim mesmo por quem agora me tem...

...

“Eu tenho medo, sim. Mas avançar é preciso e ao teu lado eu topo tudo. Te amo!”

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Atavismo

Nós crescemos com atavismos, não é?

Sabes, sempre tive dificuldade para entender o que é atavismo. Escutava em palestras, escutava pessoas conversando e usando esse vocábulo. Só tinha certeza de uma coisa: não era algo bom.

Com o passar do tempo comecei a acreditar que sabia o que era atavismo. “É aquele algo que insistimos em fazer mesmo sem saber o porquê.”

Hoje, sábado, 09 de fevereiro de 2008, 18h20min, acabo de compreender o que quer dizer atavismo. Atavismo sou eu. Eu sou todo um atavismo.

Atavismo (pelo dicionário) quer dizer “semelhança com os avós”. O uso figurado nos põe a usar esse vocábulo com aquele sentido mesmo, dito acima: algo que insistimos em fazer mesmo sem saber o porquê.

Insisto em ser eu mesmo. Insisto sem saber o porquê. Sou todo um atavismo.

Atavismo, hoje, é algo mais pra mim. Atavismo é também fazer algo se sabendo o porquê, mas esse porquê é algo duvidoso.

Eu. Um atavismo todinho.

...

Todo o erro merece reparo. Todo o erro merece reeducação. Todo o erro merece ser deixado de lado.

Quem cometeu o erro deve ser castigado? E qual deve ser o castigo?

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Viver o que se é; saber o que se é; viver sabendo o que se vive

Ainda não tenho certeza disso que estou escrevendo, mas quero pensar enquanto escrevo.

Todas as pessoas (e aqui eu digo todas) sempre constroem seus conceitos sobre o trato maniqueísta.

[Vou fazer uma observação: o conceito que fazemos das coisas todas nos faz agir (ou pensar) de determinado modo diante das circunstâncias diversas. Se, por exemplo, conhecemos uma pessoa e esta desperta nosso interesse, determinamos que gostamos desse alguém; se esse alguém nos dá sinais quaisquer que gosta de nós, passamos a crer em um relacionamento provável; assim, com o conceito de que amamos e com o conceito de que somos amados agimos e criamos esse relacionamento sobre conceitos de respeito, afabilidade e etc. Nossa felicidade é mais firme conforme são mais nítidos os nossos conceitos. Por isso o conceito que fazemos das coisas é tão importante. Voltemos ao texto então.]

Sim, o conceito maniqueísta envolve um bem e um mal. Bem e mal são conceituados por certo e errado. Não podemos formular (ou não conseguimos, ainda não sei) nenhuma idéia sem essas premissas. Pela observação, isso parece mesmo um fato verdadeiro.

Tomamos contato com os conceitos de outra pessoa de duas maneiras: uma é quando ela o explica, o conta (falando ou escrevendo) e podemos meditar sobre o próprio conceito e realmente o entender; a outra maneira é quando os conceitos dessa pessoa entram em atrito com os nossos (mesmo sendo os mesmos conceitos!).

A extrema maioria dos conceitos são descobertos pelo processo de “atrito”, como é fácil de se ver. Isso se deve ao fato da não-nitidez que os conceitos de uma pessoa apresentam a ela mesma.

Do que quero mesmo falar são dos conceitos nítidos das pessoas e como elas não seguem por esses. Um exemplo simples é o daquele que prega a vida após a morte do corpo físico, mas vive como se isso não fosse real. É um conceito, mas essa pessoa não vive por ele.

Existem homens com uma capacidade de convencer tão impressionante que conseguem fazer outros crerem em um conceito que eles mesmos não seguem. Mas isso não é facilmente visível.

Da observação (e de vários questionamentos diretos a esses homens) se deduz que eles não têm nitidez no conceito que professam. Ou o herdaram de alguém (e quem sabe não o tenham analisado) ou não o desenvolveram completamente.

...

Quando temos um conceito nítido e agimos de forma contrária a ele, nos sentimos culpados por uma espécie de auto-violação ou auto-sabotagem. Isso trás infelicidade.

...

As pessoas me perguntam por que é que não faço tal e tal coisa e eu até gostaria de responder, mas elas não estão interessadas em saber. Eu sigo meus conceitos nítidos e não desisto deles.

...

Por algumas experiências que podemos chamar de “menos felizes”, vivo com o receio de ser como os homens que citei há pouco. Não quero conduzir ninguém para idéias que não tenho claras; nem quero parecer ter certeza em conceitos que não tenho firmes. Não quero ser um cego a cegar outras pessoas para as conduzir.

...

Posso ter um conceito-nítido errado, equivocado; mas não posso ter “meia-certeza” nele. Posso mudar esse conceito, mas não vou viver e agir sem entende-lo e vive-lo realmente.

...

Para viver em paz, o homem precisa de respostas.

...

Tu tens algumas respostas; tens, portanto, conceitos-nítidos; começaste a vier por eles.

Vais agir como se eles nunca tivessem existido?

domingo, 20 de janeiro de 2008

Libélulas...

Como moro perto de onde trabalho, costumo vir a pé pra cá. Saio de casa em direção ao leste, atravesso meu bairro em rota perpendicular às ruas principais (que são duas, uma paralela a outra) e subo um pequeno morro que me leva à estrada de acesso da cidade (acesso via Alegrete-POA). Caminho por uma rotatoria (como dizem los hermanos – um trevo) e chego à parte contínua da estrada. Bem ali, um pouco antes do pontilhão sobre a via de acesso ao Porto Seco Rodoviário (PSR), começam os eucaliptos. Esses se estendem por pouco menos de 200m. Eles ficam a margem da rodovia, onde o terreno tem uma leve sublevação (uns 2m). Eles terminam, mas a sublevação continua até o fim do pontilhão, bem onde começa o contorno que leva justamente para baixo desse. Dali para diante é só estrada até onde eu atravesso o canteiro e rumo para o norte até chegar a meu local de trabalho.

Mas retomemos o momento onde eu começo a passar pelos eucaliptos. Ali, hoje, tinha uma quantidade muito grande de libélulas. Como chovera ontem (e muito), hoje era certo que as teríamos. E foi bem ali. Olhei para elas e não entendia como se demoravam tanto em um voa estático como aquele: paradas em pleno ar. Observei e vi que suas asas (as de todas) vibravam a intentarem o sul. Ainda assim não se moviam. Após passar por todo o trecho dos eucaliptos, avistei mais algumas (tanto longe quanto perto) e essas também se mantinham no mesmo tipo de planagem. Foi quando entendi que uma leve brisa soprava do sul para o norte, tão leve qu’eu não sentira, mas era demasiado forte para as frágeis libélulas.

Frágeis, mas não muito. A força delas não estava em seu corpo ou em serem um grupo: estava na força de vontade. Claro que as libélulas, em não sendo animais racionais, não possuem vontade. Refiro-me diretamente à analogia que uso aqui. A vontade e o “por mais que se demore, que não se desista”. Pensei quando é que elas morreriam (eu sabia que muito breve) e me repreendi por isso. Como fui estúpido em pensar que a libélula morreria. Mas foi breve essa idéia e vi que aquele pensar no deixar-de-ser da libélula fora somente para que eu não visse o persistir da natureza. Quase sobre o pontilhão enxerguei algumas que estavam mais próximas da parte baixa do acostamento. Lá não havia a brisa e elas progrediam facilmente.

Já sobre o pontilhão visualizei uma ave branca (da qual desconheço o nome) que fazia um longo contorno e voltava a sobrevoar o mesmo local. Certamente estava se alimentando. Algumas das libélulas estavam perecendo. “Felizmente, não todas”, pensei.

Como a trilha sonora me fazia meditar (Nara - Es Posthumus, que procuro escutar no mp3 quando passo por esse trecho do início do meu dia e reflito sobre minha vida olhando a vida da natureza), imaginei o momento atual da minha existência: renúncias por algo que consigo ver. No início dos acontecimentos, eram fatos tristes (apesar d’eu não chorar e meu rosto sempre estar em sorriso), mas agora não eram mais. Agora são fatos apenas difíceis e que já se encontram na absoluta certeza (duvidosa) de me entregarem uma vida viva. Não que a vida que tenho agora seja não-viva, mas ela começou a morrer já há um ano. Em períodos de alguns anos acontecem ciclos, e ciclos tem seu ponto baixo e seu ponto alto e seu ponto baixo novamente. Aqui se inicia um novo ciclo, herdando-se o que de bom se obteve do clico precedente. Agora estamos em um ponto baixo rumando para o ciclo novo que tem sua origem mesclada com o final do ciclo que deixo. Pela primeira vez isso acontece em uma virada de ano para mim. E, pela segunda vez, vejo o que de bom ficará ao final do ciclo.

Ao lado esquerdo (porque as libélulas e o pássaro estavam à direita), tínhamos a costumeira fila de caminhões sobre a parte da via que, saída de baixo do pontilhão, ia ao sentido oeste-leste até fazer curva para o norte e atingir os portões do PSR. Aquela fila sempre me faz olhar a parte do homem na natureza. Comparei cada um daqueles motoristas às libélulas; organizei mentalmente a ordem social onde vibramos nossas asas em um vôo estático. Foi quando entendi que os vôos nunca são estáticos: se vencemos distâncias com nosso vôo, somos vencedores; se vibramos e vibramos, mas não atingimos outro lugar, vencemos a nós mesmo, nossos medos, nossos receios, nosso não-saber do que é feito o amanhã.

Veja os homens todos que estão com suas histórias (sejam belas, sejam estranhas) a sua volta; eles têm o que tinham quando eram jovens? Eles têm o que teriam se não fossem o que são agora?

Sou como todo o restante da obra natural: alguém em vôos estáticos ou vôos rasos ou vôos perigosos ou... ou...

Voar?

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Mon style

Todo o escritor tem uma maneira de se expressar quando escreve. Isso é conhecido como estilo. Apesar dos assuntos versarem sobre questões diferentes, ainda assim há algo que revela seu autor, seja em prosa, seja em verso.

Algumas coisas me apertam a razão nesse momento. Em verdade, são conceitos próprios que se chocam contra a realidade do não-saber. Carlos Drummond de Andrade: quantas paixões ele teve? Caio Fernando Abreu: quantos amores ele teve? Clarice Lispector: a quantos ela amou de paixão?

Sempre acreditei na criatividade como ponto de demonstração do que sinto. Isso surge da observação da natureza própria dos casais. Como eu não namorei até os 21 anos, muito observara dos outros e passei a entender que tudo o que era diferentemente demonstrado era cativante e o que era cativante mantinha um como ‘fervor’ nos amores. Em minha primeira experiência, vi que isso era uma verdade: cessados os pontos originais, não mais se susteve e desabou (e isso até foi planejado). Numa próxima experiência, fui exatamente idêntico ao que fora na forma escrita e em muito da forma comportamental. Mudando apenas conceitos básicos, passei a crer que seria perceptível a mudança, justo o que não foi. E agora, que estou em algo totalmente diferente, não estava percebendo que mais uma vez estava sendo idêntico no meu texto escrito. Havia me passado totalmente desapercebido disso. Bem, compreende-se: estava (estou) fascinado com essa dona e não pude ME ver, não prestei atenção ao que fazia. Felizmente ela é inteligente e acabou por me chamar a atenção para um ponto: repetição de formas. Textos quase idênticos ao que escrevera para minhas outras namoradas repetidos com ela. Realmente eu não havia percebido. Tive que relê-los para ver que (mais uma vez) ela está certa.

Um domingo de livros e pensamentos. Foi o suficiente para eu ter mais dúvidas ainda sobre o porquê estava repetindo meus textos.

Espere. Escrevendo os mesmos textos? Não foi isso que ela me disse quando me chamou a atenção. O que ela disse foi que “os textos tinham muita parecença, são muito similares. Verdade. Isso era uma verdade.

Bem, se as idéias não eram as mesmas e apenas o texto tinha certa semelhança, será que esse é meu estilo de poesia? Meu estilo de prosa?

...

Fico pensando: será que as cartas de amor do Drummond eram todas diferentes como se ele não fosse ele e escrevesse em outro estilo? Será que Vinicius de Moraes poetizou como um outro Vinicius para amores diferentes? Será que Cecília Meireles era uma outra que não ela mesma em seus textos para um romance?

Dúvida, dúvida, dúvida, dúvida...

Pilotem suas cabeças

Em um comentário de um post do Doces Deletérios, é citado a não existência da ‘opção sexual’ e sim a existência da ‘orientação sexual’. Pareceu-me de grande verdade essa frase, ainda mais sob a argumentação de que a pessoa não consegue realmente escolher em que rumo orientar sua sexualidade.

O frei Adso de Melk (eu acredito que ele tenha existido realmente) disse que “o sono diurno é o mesmo que o pecado da carne: por mais que se o tenha, não sacia”. Faz-se observância aqui ao fato de serem considerados ‘pecado da carne’ não só os atos sexuais, mas os males de toda ordem. Ainda assim, ressalta-se o ato sexual como uma conspurcação e que deve existir glorificado através da luz da reprodução da espécie. Não é visto como um ato de equilíbrio e aproximação de dois seres viventes que se precisam reconhecer próximos de sua forma sans masques e direta.

A monogamia é considerada um grande passo do ser humano na evolução. Disso remonta-se a isso: o que é monogamia?

Por definição, temos do grego mónos (único) + gamos (casamento), ou seja, um único casamento. Então necessitamos reconhecer o que é casamento. “União legítima entre homem e mulher” é o que se diz. Como é uma união ilegítima entre homem e mulher? Sobre que conceito se pode basear o legítimo ou o ilegítimo? Talvez o legítimo queira dizer que exista a confidência, a confiança, a paridade, a liberdade de ser, o conforto, o carinho, a compreensão, a vida em comum entre o casal. Mas se sabe de casais que não têm nenhum desses requisitos (nem mesmo algo similar!) em seu consórcio. Outros ainda não os têm em casa, mas os têm em amigos que são verdadeiros cônjuges se observarmos as características do casamento que espuzemos acima. E há vezes em que se chora colado a ombros de alguém que não se quer sobre uma cama. São esses os amigos verdadeiros. Esses amigos são amados de todo o nosso coração e, nem por isso, os queremos como nossos pares em relações sexuais.

Aqui chegamos a um ponto em que estou certo que alguém está lendo e já pensou: existem formas diferentes de amar. Faz sentido. Faz sentido... Faz sentido? Faz sentido?!?!?!??!

Onde está assentado o amor que temos por nossos amigos? E onde está baseado o amor que temos pelo nosso cônjuge? O primeiro no amor-amor e o segundo no amor-sexo?

Estou em dúvida. Comente aqui e me auxilie a sair dessa dúvida.

O que sei é que temos amigos muito amigos nossos, mas, se eles se aproximam e demonstram intenções consorciais conosco, nunca mais usufruem da amizade que se sutinha até aquele momento.

...

Você já fez sexo sem amor? Pois é. Ele cansa; ele vicia; ele rança; ele apodrece as víceras do pensamento e amortiza os efeitos da razão; degrine; esturdia; estrainece.

Você já fez sexo com amor? Pois é. É amor. E qualquer coisa feita com amor é boa e não cansa, não vicia, não rança, não apodrece as...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Morte natural

“Essa morte constante das coisas é o que mais dói.”

[Caio F. Abreu - ]

Toda a pessoa que é espiritualizada, seja qual for sua religião, tem a crença na continuidade da vida após o desiderato natural do corpo físico. Alguns não só acreditam como têm certeza desse fato. Sou um deles.

Claro, existem aqueles que duvidam disso ou até mesmo titubeiam em sua crença. Vivem normalmente, mas quando o momento infaltável chega ou se afigura próximo a dor é muito intensa e atroz o sofrimento.

Já com aqueles que têm certeza de que a vida continuará isso não se dá. Não há medo da perda da vida simplesmente porque ela não cessará. Não existe morte, existe apenas um ponto de mudança que consideramos drástico. Hora estamos aqui, hora estamos “lá”. Sem medo de mudanças desse tipo, não há horror e nem terror.

Como é bom viver tranqüilo quanto a isso, não?

...

Lendo o trecho de Caio F. logo acima, compreendi que ele falava dessa desilusão contínua em que tudo se transforma. Todo o gosto das primeiras impressões se vai indo. Leva pouco tempo, até. E, como ele mesmo diz, “restaram o frio e a umidade que amolecem papéis e vontades..." e, daqui, caímos no ostracismo de nós mesmos. Quando essa desilusão já foi vivida ela constrói um castelo de espinhos em torno de nossas limitações. Essas limitações sempre estão escondidas e não se fazem presentes nas primeiras visitas. Elas se vão mostrando aos poucos e ferindo o trato epitelial somente pela superfície; isso é o bastante para afugentar.

Mas existem aqueles que insistem e acabam indo residir no referido castelo e dentro de poucas primaveras sentem a dor lancinante das espadas cactuais que se encravam por além da pele e atingem o interior do que se é. Acabam por se evadirem de si para conseguir sair do castelo.

Há outro – louco – que, após as lanças o terem rasgado até mesmo nas cicatrizes que se formavam, enraíza-se nos porões e nas masmorras não se importando com essa pequena parte úmida e desconhecida do todo. A esse é garantido o direito de respirar os ares que só do terraço se podem tocar. A esse é assegurada a totalidade do estar-ser. Logicamente esse castelo não está, em nenhuma hipótese, sem um proprietário. Esse proprietário faz jus ao que é e não deixará que um outro fique a se valer de uma liberdade total aqui. Vezenquando virá e torcerá as escadas, modificará a colocação dos espinhos, inventará novos caminhos simplesmente para pôr a prova esse possível simbionte. E isso não o deixa se tornar um simbionte.

...

Eu tinha medo dessa morte constante das coisas... agora que vi que são apenas mudanças, não as temo mais... Frio na barriga? Claro que sim! Afinal, imagine ver escadas mudando de lugar justo no momento em que as tentamos subir ou então corredores que sempre estiveram ali que mudam de posição e parecem conduzir a outro caminho?

Viva! Viva! Viva! a morte constante das coisas!

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

T'amo... t'adoro...

And I don't want the world to see me
'Cause I don't think they'd understand
When everything's made to be broken
I just want you to know who I am

[Goo Goo Dolls – Iris]

Pois conseguiste. Conseguiste me ver.

...

Demora muito para sabermos o que queremos buscar. Demora o tempo de sonhar com aquilo que queremos encontrar.

Uma pergunta complexa de responder quando me é feita: “Quais são tuas pretensões? Que pensas em fazer?” Sozinho, tentei entender a confusão que me surgia à mente na hora de responder a essas questões. Sofri. Isso é recente. É difícil demais perceber que não existem sonhos estáveis de longo tempo alinhados por ti mesmo na tua senda. Sem sorriso no lábio, sem o habitual “abraço sem braços” que me ponho a dar nas pessoas que estão próximas, senti... e doía... Após instantes, extraindo o caldo doce da verdade acalentadora, percebi que não conhecia antes os motivos que me faziam não responder o que me era questionado: eu sempre estou fazendo o que quero pro futuro. Penso no que é de bom e no que virá e lá entramos. Mas... nem tudo... Em algumas coisas investi e investi sabendo que não trariam retorno. Foram escolhas furadas e escolhas conscientes. Até via graça nisso. Já aprendi: não tem graça, não.

O único sonho que nunca conseguia viver era o sonho da mulher perfeita. Sendo um guri, não tinha muita escolha a não ser sonhar (assim como todos). O tempo foi passando e passando e tive minha primeira namorada aos 21 anos. Primeiro beijo também. Esse namoro só me ajudou a perceber que a mulher com a qual eu sonhava era apenas um sonho, um sonho-conceito. Não viria, por certo. Assentei bases numa espécie de conformismo e continuei a me construir sustentado por essas pilastras frágeis. O restante todo de mim conseguiu firmeza em outros lugares, mas muitas das minhas certezas se acostaram aqui. Terminado esse namoro, continuei. Sou uma pessoa afetiva, gosto de me dar a alguém. Segui tentando e encontrei pessoa amiga e compreensiva. Acolheu-me e tivemos um namoro muito rápido quase inexistindo contato físico. Isso foi bom, muito bom. Continuamos amigos e isso me conforta. Mas não posso deixar de citar que sabia da não-estabilidade das coisas nesse período. Como pouco conhecemos do futuro, continuei. Aguardava o “sei-la-o-que” que viria. Sentia que deveria esperar. Algo como dois ou três anos. Felizmente, não houve esse tempo: houve a “Temporizadora”. Não pensei nisso durante os 10 primeiros minutos em que a vi existindo, mas foi só. Depois disso a idéia era inconfundível: era o sonho-conceito qu’eu não pensava surgiria, era a mulher dos meus sonhos. Inteligente, interessada em pensar, estável, definida, participativa, cativante, destemida, consciente, empática e... distante... muito distante... tão longe que tinha certeza de não a alcançar...

Mas não podia ser! Era ela! Não a deixaria passar, em hipótese alguma, NÃO!

Ela me estendeu a mão como que sabendo o mesmo que eu: teríamos que ser, juntos. Era o que queríamos sem o poder definir e o declarar (até mesmo um para o outro).

Conversas consecutivas por MSN e um toque que me deixaria hipnotizado se não fosse lúcido. Acometido de paixão não sabia fazer nada sem pensar nela. Decisões tomadas sempre a considerando. O que me deixou perplexo foi em uma das manhãs de nossas conversas, em meia-dúzia de palavras minhas (as primeiras que trocávamos n’aquele dia) ela perceber qu’eu não estava bem!

Por MSN é tudo tão mais distante ainda e nada substitui o estar-junto. Estivemos juntos, portas definidas agora.

Instabilidades surgiram, mas ela não desistiu do que havia começado comigo. Instabilidade logo dois dias após termos determinado o início. Ela não desistiu.

Ela me invitou a passar o reveillon com ela. Não pude resistir e fui.

FORAM OS MELHORES DIAS QUE JÁ TIVE.

Sabe o que esse dias me mostraram? Que essa mulher-conceito não era mais um conceito: ela existe. E me quer junto dela. Quer-me em verdade.

Amar, verdadeiramente amar... a gente acha que nunca virá... amor e paixão...

Esse sentimento é antigo pra mim; a diferença é que, agora, ele não é mais um punhado de letras nem a minha imaginação: é verdade, é real.

É estranho não ter citado o nome dela ainda, não é? Pois viva o que vivi. Já sabia quem ela era, e aguardei... agora não são mais imagens, são fatos.

Quero escrever tudo, cada detalhe, cada segundo, cada trejeito dela, cada toque, cada não-toque, cada sorriso, cada passo, cada não-sorriso, as gargalhadas, as vezes em que ela levou a mão a minha boca para me fazer parar de falar, as vezes em que ela não conseguia me olhar, as vezes em que ela me olhou, os beijos, os “...” (minha sogra vai me brigar s’eu escrever isso aqui), tanta coisa.... o rosto dela de manhã... antes da minha partida... O ROSTO DELA!!!!! AI!!!!!!

Ainda bem que as caravelas de regresso partiriam nos primeiros ventos da manhã. Se mais um pouco tardassem, teríamos morrido...

...

Com quantas vidas me brindarás, Fulana?