quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Pessoas água-com-açúcar

If this life
Gets any harder now
It ain't no nevermind
Got me by your side
And anytime you want
We catch a train
And find a better place
'Cause we won't let nothin'
or no one keep gettin' us down
maybe you and I
Could pack our bags and hit the sky

[Aerosmith – Fly away from here]

Já há algum tempo (ih, já se vão 9 anos!), li em uma revista uma matéria feita com os editores e colaboradores de uma revista de música. Lá, entre outras coisas, cada um deveria apresentar uma lista contendo vários de seus gostos. Melhor música, pior música e tal. O último item era a música que eles estavam escutando e que tinham vergonha de estar escutando. Um deles inseriu Britney Spears. Disse que era estranho escutar aquilo porque era bem diferente do estilo dele, era “água-com-açúcar”. Mas, mesmo assim, ele não conseguia deixar de escutar.

Desd’aquela época observo os padrões clichês (não era esse o nome que dera para o padrão, mas, por motivos recentes, ganha essa nomenclatura) que todos nós adotamos. Contava 15 anos e um círculo social pequeno. Nunca tinha namorado também. Era (muito) mais retraído. Portanto, não havia me servido de clichês até aquela época. Mas d’ali pra frente comecei a observar e ver que eram - até pode-se dizer - necessários.

A vida social é bem complicada: nós devemos transmitir idéias através de uma linguagem e ainda temos de ser compreendidos (divertido, não é?).

Aqui é interessante que se estabeleçam padrões para a comunicação. Facilidade de compreensão. O clichê entra nesse setor.

Quem nunca se serviu de clichês? (dá até pra ser um nome de comunidade no orkut) É difícil imaginar alguém que nunca os tenha utilizado. Claro, tudo o que é comum, banal e repetitório é anti-romântico. Quem vai gostar de um relacionamento sem romance?

Nos anos que se seguiram pude ir maturando essas idéias (junto comigo, que amadurecia com os anos – estou ficando velho...) e atinando que há mais coisas por detrás dos fatos. Outros fatos mesmo. São trechos de vida que só são visíveis em um tempo consideravelmente posterior a seu acontecimento.

Difícil de entender? Nem tanto. Vejamos: apenas leia a transcrição feita no início do texto. Muito clichê, não? Agora não a leia, mas sim cante-a. Diferente agora. Sentiu? Sem a música, é apenas um clichê. Já com a música é bem mais do que isso. Se fosse somente a melodia, ficaria cocha e não teria todo o sentido que poderia.

Clichê (já repeti essa palavra sete vezes até aqui: os letristas vão me matar!) é ferramenta; a verdade está no todo de onde partem as palavras.

...

I can see clearly now the rain is gone.
I can see all obstacles in my way.
Gone are the dark clouds that had me blind.

...

Look all around, there's nothing but blue skies.
Look straight ahead, there's nothing but blue skies.

[Jimmy Cliff – I can see clearly]

Não há nada mais do que o céu? (Clichê!)

Realmente, não há nada além do céu... só o restante da natureza... o céu pelo céu apenas não consegue ser azul sozinho. Mas, quem é que quer saber disso, não é mesmo?

...

Existem livros água-com-açúcar. Existem músicas água-com-açúcar. Existem conversas água-com-açúcar.

Não existem pessoas água-com-açúcar.

6 comentários:

Rô Rezende disse...

Não existem pessoas água-com-açúcar? Essa é minha esperança...
Não entendi a coisa de sair das linhas que você comentou no meu blog...seria não ser fiel ao que escrevo?
Obrigada pelo comentário, aliás!

Jacinta Dantas disse...

Esse teu lugar é muito bacana. Entrei aqui através do Entre Aspas da Lyani.
A finalização do seu texto é ótima
"não existem pessoas água com açucar". Penso que estamos precisando disso: acreditar nas pessoas.

Jacinta Dantas

*Lusinha* disse...

Pois eu acho que existem pessoas água-com-açúcar sim... Mas vale a esperança de acreditar que um dia elas deixarão de existir.
Bjitos!

Anônimo disse...

Então tá, né?
Vou 'aplicar' um clichê.
Eis-lo aqui:
"O que há dentro do meu coração
Eu tenho guardado pra te dar
E todas as horas que o tempo
Tem pra me conceder
São tuas até morrer
E a tua estória, eu não sei
Mas me diga só o que for bom
Um amor tão puro que ainda nem sabe
A força que tem
é teu e de mais ninguém
Te adoro em tudo, tudo, tudo"

Não consigo escutar essa música sem pensar em ti instantaneamente.


;***

Anônimo disse...

Esqueci de deixar um 'post scriptum'... A mãe escuta essa musiquinha aí o dia inteiro! Hahahaha

Timéti, mãe pagodeira é o que há!

[Tá, não é...Mas...]

Anônimo disse...

Obrigado pela tua visita e comentário ao meu blog.
Realmente clichês estão sempre presentes na nossa vida! Acho normal, mas o que não podemos fazer nunca, é tornarmos nossa vida um clichê.

Abraços!

www.gabrielcalegari.com