quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Vítimas da paixão condicional

Apenas como exemplo, o Homem Aranha é uma paixão incondicional pra muita gente. Incondicional porque o seu senso de dever é algo que, apesar de fictício, é extremamente palpável. Por mais que ele tenha errado ou erre ainda, nenhum dos fãs dele deixará de amá-lo. Há motivos pra esse incondicional.

Procurando na internet e no contato direto com outras pessoas, encontrei muitas paixões incondicionais. Não conheci ninguém que não tivesse uma dessas paixões, mesmo que a pessoa não a declare diretamente.

Paixão incondicional... que mistério esse...

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Nós temos sempre posturas diante dos acontecimentos. Sempre variáveis, mas sempre centradas em uma maneira comum para cada ser. Assim é que uns são tidos como pessoas de personalidade forte e outras não.

No entanto, um comportamento parece se repetir. Quando o objeto dessa paixão, desse amor é uma outra pessoa que se torna nosso cônjuge, o comportamento sempre é condicionador.

Com o super-herói d’uma história em quadrinhos, com o escritor de belos poemas, com grandes artistas musicais, com grandes literatos, enfim, com todas as paixões incondicionais dessa ordem o modus vivendi dessa paixão, desse amor parece se basear em uma característica simples: a impossibilidade que o objeto dessa paixão tem de nos ferir. Não, melhor: a impossibilidade da intenção malévola de nos ferir. Afinal, se um trecho de um poema ou conto nos diz que somos algo menor do que realmente somos, fica patente a não-intenção de nos atingir, já que nem somos conhecidos do autor.

Pobres são as vítimas do amor condicional. Essas pobres pessoas não podem ter ninguém pelo simples motivo de não serem tidos. E não são tidos por alguém pelo estúpido motivo do medo, da não entrega, do condicionamento. “Não me dou todo porque tenho medo dos espinhos que talvez hajam em ti...”. Argumento estranho, não?

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Amar o Homem Aranha, amar Machado de Assis, amar Herbert Vianna... tu entendes, não é? Em um livro, em uma música ou em qualquer contato indireto não há como ter alguém. Não há como se iludir. Ter alguém sem ser tido é utopia. Ninguém nos tem se não temos esse outrem; não temos ninguém se esse outrem não nos tiver.

Viva como quiser, com o que quiser, é claro; mas não tente se esconder atrás da paixão incondicional mais condicional de todas. “-Ei! Meu ídolo! Eu estou apaixonado incondicionalmente por ti! A única condição é a distância, que tu não te tornes real pra mim... não quero te perder... deixe que eu siga imaginando que nos temos... é tão bom quando não arrisco...”

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Veja aqui o que é o incondicional e tente, junto comigo, aprender a viver uma paixão, um amor em verdade: http://www.youtube.com/watch?v=QyOh5uVcNww

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Todo mundo busca alguém pra se entregar completamente, pra que conheça tudo o que há em nós, pra que possamos “morrer nos braços”. Quando estamos em vias de ter esse alguém, nos negamos a entrega. Temos absoluta certeza de que essa é a pessoa certa, mas... hum... bem... ainda não sei... não tenho certeza... vou esperar mais 4 ou 5 anos ou... ou mais 10 anos pra ter certeza absoluta de que perdi tanto tempo...

Seja covarde, se esconda atrás da desilusão, crie uma dessas paixões incondicionais totalmente condicionais e esqueça de viver a única coisa que é totalmente incondicional: a vida. Sim, por que a vida não tem condições...

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Objetividade

Sempre gostei de estudar. Infelizmente sofro de falta aguda de disciplina. Não sei estudar sozinho. Talvez tenha sido a estranha confiança que a Dona Mãe e o pai nos entregavam (a mim, meu irmão e minhas duas irmãs). Heheheh.... era muito bom ver que nós não éramos “vigiados” como as outras crianças, éramos como que responsáveis por nós mesmos em tempo escolar integral. Em casa não haviam revisões de cadernos ou outros tipos de “fiscalizações”. Isso era realmente ótimo e nos fazia como que pactuados a não sermos maus alunos. Éramos boas crianças, os professores gostavam de nós e nos tinham por bons alunos. Gostávamos de estudar e realmente aprendíamos. Fruto negativo desses anos assim foi a falta de estudos complementares em casa e principalmente da disciplina de estudar sozinho. Hoje sinto essa falta...

Com 16 anos percebi essa minha insuficiência. Começavam as épocas de vestibulares e concursos e necessitava estudar sozinho. Extremamente difícil e cheguei a centros de completa inabilidade. Mesmo assim, não desistia.

O que gostava mesmo de tentar estudar era redação. Como lera muito pouco até a época, o texto era um mistério pra mim. Não um mistério total, mas um mistério por como se mostrava. Nesses esforços, busquei ler quem escrevia bem. Redação pra concurso é um saco, convenhamos. Limite de linhas máximas e mínimas é quase uma castração da liberdade. Numa publicação (que já não lembro de que revista era), havia uma coleção complementar para concursos e vestibulares. No encarte sobre redação aparecia a de um vestibulando da USP (eu acho) que ganhou nota 10. Lendo percebi que não existem limites exteriores: o limite é todo de quem está do lado de dentro do texto. Em tudo o que já escrevi até hoje eu buscava vencer os limites exteriores, mas não vencia as barreiras interiores, não me vencia no texto. Idéias por signos, registro por símbolos era tudo o que eu dispunha a quem lia.

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Sempre me surpreende o mundo direto. Não sei o que é. Agrada muito mais a meu gosto esse mundo objetivo, mas não consigo viver assim... ou sou dúbio ou não sou.... não sou ninguém.... Acho que me escondo atrás de um nada que eu mesmo crio; quem consegue vencer o nada sem se assustar encontra até um porto seguro... Figura de linguagem, claro. O nada não existe e, em não sendo coisa alguma, não pode nada impedir e nem fazer. A verdade é que crio uma cara-feia ou uma cara-estranha... Por quê? Não o sei... Talvez eu não saiba quem e como sou e tenha medo que outrem me descubra primeiro...

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Durante esses últimos dois meses estou começando a realmente tentar me vencer no texto. Uma moça me mostrou como é que se faz: primeiro e me venço em mim e depois eu posso ser o que quiser.

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Lisiane, tens mais coragem que eu e um sentido do todo que me escapa e me perde. Esse nada que eu criei, esse nada que está a minha frente... tu vens e o destrói... fazes com que eu mesmo me debata à exaustão contra essa insânia estúpida que me rege e me acovarda sem que eu queira saber. Banhos de verdades extremamente dúbias me entram em colapsos, e me mostram que não tenho do que ter medo e não há a que reagir.

Lisiane, meus erros me doíam, mas não tanto quanto agora... eu buscava sentir essa dor e não sabia... ma deste...

Eu sou entregue a mim mesmo por quem agora me tem...

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“Eu tenho medo, sim. Mas avançar é preciso e ao teu lado eu topo tudo. Te amo!”

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Atavismo

Nós crescemos com atavismos, não é?

Sabes, sempre tive dificuldade para entender o que é atavismo. Escutava em palestras, escutava pessoas conversando e usando esse vocábulo. Só tinha certeza de uma coisa: não era algo bom.

Com o passar do tempo comecei a acreditar que sabia o que era atavismo. “É aquele algo que insistimos em fazer mesmo sem saber o porquê.”

Hoje, sábado, 09 de fevereiro de 2008, 18h20min, acabo de compreender o que quer dizer atavismo. Atavismo sou eu. Eu sou todo um atavismo.

Atavismo (pelo dicionário) quer dizer “semelhança com os avós”. O uso figurado nos põe a usar esse vocábulo com aquele sentido mesmo, dito acima: algo que insistimos em fazer mesmo sem saber o porquê.

Insisto em ser eu mesmo. Insisto sem saber o porquê. Sou todo um atavismo.

Atavismo, hoje, é algo mais pra mim. Atavismo é também fazer algo se sabendo o porquê, mas esse porquê é algo duvidoso.

Eu. Um atavismo todinho.

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Todo o erro merece reparo. Todo o erro merece reeducação. Todo o erro merece ser deixado de lado.

Quem cometeu o erro deve ser castigado? E qual deve ser o castigo?