terça-feira, 27 de novembro de 2007

Unhas grandes.

Mulher tem que ter unhas grandes. É assim que deve ser.

Mesmo não sendo aquela gatinha elas acabam sempre tendo atitudes felinas.

Nós estamos parados, acostumados com o soprar lento do vento (pensamento masculino) e acabamos sendo arrebatados por uma mulher que chega mesmo sem avisar. Ou ainda: chega devagar e se mostra rapidamente em uma atitude felina. Sei disso porque vivi a situação bem assim.

Eu era pequenino e sonhava com aquela mulher que viria e seria tudo de especial que existisse: inteligente, atenciosa, bonita, inteligente, cativante, experta, inteligente, culta, brincalhona, observadora, inteligente, gostasse de pensar...

Mas o tempo vai passando e passando as coisas com ele vão. Claro, sonho é sempre sonho e a gente nunca abandona. Mas chega um momento em que a gente não pensa mais em realizá-lo: é quando ele se transforma em um “sonho-distante”. Sonhos-distantes são aqueles sonhos que não tencionamos mais realizar, que não mais nos fazem ter ‘aquela’ esperança, que só há no fundinho da gente, uma como que luzinha esperando pra brilhar. Quando as coisas ficam difíceis, são esses sonhos que nos mantém pisando no chão.

E, um belo dia, a gente abre a “janela” e lá está aquela pessoa que a gente viu e... viu. E, segundos depois, a gente não consegue mais parar de pensar nela e em tudo o que ela tenha dito. Os pensamentos que advém do pensamento (principal) que é pensar nela são todos feitos de uma ondulação longa e lisa, como aquelas que os navios que naufragaram encontraram no início da tempestade. Eles vêm varrendo tudo, não interessa o quão grandioso é ou deixa de ser, e a tudo engole para eternizar na memória de quem esse tudo viveu. Não interessa muito o que “esteve”, mas sim o que “estará”. Em verdade, nem o que estará. A imensidão deixa de existir. As fraquezas são insignificantes. As fortalezas são conquistadas. O mundo passa a girar na velocidade certa. Nós ganhamos a lucidez da paixão (sim, porque a paixão é lúcida quando é pela vida, quando é pelas coisas de valor e o que a “mulher dos sonhos” trouxe foi justo isso pois não seria “dos sonhos” se assim não o fizesse). Ela nos faz melhor.

Bem, ela não faz um “nós” melhores. Ela faz um “eu” melhor. Foi o que ela fez. E ela faz.

Talvez ela não queira casar comigo ou, se o fizer, não permaneça para todo o bem-dito sempre junto a mim. Muito provável seja que ela se vá. Se vá e não me leve com ela. Mas ela terá então edificado a maior das construções: eu.

Sinceramente? Ela não vai construir nada. Eu já existo. Ela irá assinar ou rubricar a escultura. Eu era quase um bloco monolítico, agora lapidável. Ela não imprimirá um estilo artístico em mim. Ela me transformará em um estilo.

Observe: ela, ela, ela, ela, ela, ela, ela, ela, ela, ela, ela, ela, ela e ela. Ela; ela; ela.

Podes pensar agora. Parece que ela monopolizou o meu pensar, não é mesmo? Sim, mas foi quase. Ela me deixa na administração de mim mesmo, mas foi aclamada como Inspetora Motivacional de mim. Por aclamação, diga-se, já que está efetuando um ótimo trabalho.

Agora, ao fim do texto, diga realmente se o mesmo faz sentido. Seja sincero. Palavras repetidas? Frases com sentido separado? Não faz sentido, não é? Pois é... isso também é obra dela.

Sabes qual é o milagre dela? É ela ter unhas grandes. Ela as corta “vezenquando”. Isso é portabilidade... portabilidade...

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